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Mara Ulhoa cura almas

migração de elefantes
Elefantes têm suas rotas migratórias interrompidas por seres humanos. Em extinção. Obra de Mara Ulhoa.

Por: Rogério Zola Santiago (Mestre em Crítica, Indiana University USA)
Fotos: Gilson Carvalho

Revista: EXCLUSIVE, setembro de 2021, #100

MARA ULHOA CURA ALMAS COM SUA ARTE AMBIENTAL

A relação entre o crítico de arte e a artista pode começar no primeiro contato dele com determinada imagem pintada por ela sobre uma superfície. Antes do contato interpessoal. Nas obras analisadas, cala fundo, de forma suavizada e, ao mesmo tempo, contundente, a profundidade da cor, o misterioso envoltório dos seres por sombras e luzes que rumam, voam ou nadam sem sons audíveis a nós. Sem destino

certo, numa alusão à própria Humanidade, esses seres mágicos seguem sua rota migratória na areia, no ar, sobre ou dentro d’água de rio, oceano ou lago. Pode ser savana fechada. Floresta tropical pegando fogo. A conexão se dá entre observação especializada e Arte também no terreno Memorial etéreo aquoso, espiritual, movediço, arenoso, amálgama de nome Alma, Âmago ou Sentido.

Engenheira Ambientalista Mara Ulhoa se preenche, desde os primórdios, da motivação ecológica mesclada a conceitos humanísticos. Ela pinta o silêncio dos bichos que ainda se reproduzem, brincam, cuidam de seus filhotes que vão falar sem os sons dos homens, das mulheres, das crianças. Sua mensagem pode ser de Adeus. Sortudos os que desse surdo pedido por socorro se apercebem, na possibilidade Divina. Em sua rota migratória por nós interrompida, pairam elefantes, adejam caranguejos e deslizam águas-vivas na agridoce lembrança de sua passagem pela Terra. Há, sim, a possibilidade de uma definitiva extinção.

Caranguejo e tatuís em praias são sinal de água e areia limpas. O litoral de Alcobaça, Bahia, está sendo comprado por italianos.
Migração de águas vivas
Imersas na escuridão ou brilhando transparentes sob o sol, esses belos animais marinhos reproduzem por
alternância de gerações: a reprodução assexuada alterna-se com a sexuada, nas Medusas. Invertebradas formas de
vida que ejetam líquidos para pegar presas. Podem matar humanos alérgicos. Mara Ulhoa pinta seu enigmático bailado, preciosidade ameaçada pela poluição.

DA TERRA PARACATU AO COSMOPOLITISMO DA CAPITAL

Mara Botelho Ulhoa é do Norte de Minas, Paracatu, cidade perto de Brasilândia. Rio Paracatu que passa, levando lembranças indígenas e animais como o quelônio cágado, primo das tartarugas e dos jabutis. Possui formação profissional em Engenharia Ambientalista e Artes Plásticas, com especialização UEMG/Guignard em Artes Plásticas e Contemporaneidade, e Gestão Ambiental, pela FUMEC, onde também se formou em Engenharia Civil. Palavra da artista: “Espero contribuir para reflexões sobre Questões Ambientais, Urbanas e sobre o Feminino.
Minha infância foi repleta de experiências no hoje ameaçado ‘Planeta Azul’.

A artista plástica Mara Ulhoa, Engenheira Ambientalista em foto de Gilson Carvalho. Background de fundo de mar com peixes e latinhas

Ninhos, Migração, Movimentos na Natureza e Paisagens estão entre meus temas realizados em desenho, mosaicos, pintura (óleo, acrílica, aquarelas) e colagens. Os surrealistas Salvador Dali e Magritte me encantam. E reflito por meio desta fase de colagens, em que uso pedaços de mim em trabalhos reflexivos: será que após esta pandemia, que já levou embora cerca de 600 mil brasileiros, estaremos aptos a compartilhar um mundo melhor?”. Mara Ulhoa, 2021

joaninhas
Joaninhas sumiram das brincadeiras infantis. Quase extintas. Comem pulgões e outros insetos nocivos ao homem

AS COLAGENS AUTOFÁGICAS DE ULHOA

Notem o olhar desta ave pré-histórica que faz lembrar o violento Casuar, descendente dos dinossauros (como todas o são). Bem colocada, de modo inusitado como requerem as Artes Moderna e Contemporânea, no meio de uma parafernália urbana, a gigantesca voadora, em insurreição, parece questionar-nos sobre o caos urbano. Lá embaixo, está encalacrado um teatro absurdo de lata, poluição sonora e atmosférica, por ora, sem solução. Imagem bela e informativa. Trágica e sublime, por Mara Ulhoa

Penicilina – Tartaruga ruga flor gigante dos mares de Galápagos! O braço de ferro dos homens e mulheres empurram o couraçado da guerra contra seus recifes de corais vivos. Que Deus nos socorrerá contra o desbastar de nossas algas, contra o delirar das pandemias? Colagem de Mara Ulhoa, cogumelos e fungos arbóreos.

POR QUE RAZÃO O HOMEM POLUI?

Poluição do ar, do mar, do solo. Por ignorância ou ganância, substâncias assassinas do ambiente são nele inseridas provocando efeitos negativos e acabando com seu equilíbrio. Resultam cruéis danos à saúde humana, aos seres vivos e aos ecossistemas. Será que a humanidade falhou? É um processo suicida a curto, médio e longo prazos. Louvável é a opção da grande artista Mara Ulhoa, defensora dos animais e da transitoriedade vital do Planeta que tem de ser deixado em Paz. Ela estudou, pesquisou e fez pós-graduação sob a “guidance” do também pintor Sebastião Miguel (em breve aqui, destaque na Exclusive). Nesta imagem temos beleza natural e latinhas no fundo do mar. Quem será que as jogou lá? Lastimável!

A pintura de Mara Ulhoa adentra profundezas em suas várias fases. Inclusive a das colagens nas quais a artista plástica recorta as próprias obras, reciclando-as em formatos além do real, surreais, dando aos observadores exigentes a visão da releitura instrutiva. Educar é fazer repensar já dizia a primeira Arte Educadora de Minas, Arlinda Corrêa Lima (este que lhes escreve foi aluno dela nos anos 1960, nos porões do Instituto de Educação). Urge reavaliar nosso tempo presente rumo a um futuro melhor para todos e todas. Ulhoa, em 2021, assim como fez Arlinda, nos sugere a prática reconstrutiva em busca de Salvação.

Recortando e compondo tal uma canção de letra e canto, as colagens de Mara contam estórias. Aqui temos o lindo sofrê ou sofreu, tão caçado (ama cenouras raladas e fica vermelho) por sua capacidade de assobiar
o Hino Nacional. No ouvido do colecionador de pássaros silvestres brasileiros ele diz: “me
solta, malvado! Quero bicar os frutos de sua figueira!”
Liberdade (não só a humana, mas a dos bichos nas montanhas do Mundo e seus hinos) voa pássaro-bandeira Brasil. Mulheres entoam. Sinos de Ulhoa na várzea
marejada. Rogério Zola
Santiago – 2021.
“Fomos nós que os
interrompemos”. “Free Willy, a Orca, morreu num aquário da Flórida. Mara Ulhoa veio de Paraná, Minas. UEMG, Guignard, Engenheira Civil com
especialização em Gestão
Ambiental pela FUMEC. “Busco contribuir com reflexões.” “A Arte reflete o mundo em que vivemos”.

TEOR HUMANITÁRIO PRIORIZADO PELA ENGENHARIA AMBIENTAL

Grita e canta esta menina
asiática de pé numa poltrona vermelha (ex-luxo) localizada num lixão. “Que um dia criança nenhuma (alguma) tenha mão serva do lixo”.

Thiago de Mello exorta as elites do mundo a compartilhar seus projetos, praticando a inclusão pedida por Jesus, Buda, Maomé e todos os mais de 600 profetas islâmicos.

“Vinde a mim as feras e as crianças.” Mara Ulhoa adere-se a esta meta pois, haja vista sua migração do Interior à Capital, bem conheceu o que acarreta as mudanças. O seu primoroso uso de cor é fenômeno tanto da ideia bondosa quanto da mensagem sustentável à Arte incorporada. A artista pinta cenários da interação afetuosa com mestria técnica.

Ulhoa olha e se relê na textura poderosa dos elefantes do caminho
interrompido.
Mara Ulhoa faz homenagem aos homens
ambientalistas como Jader Kalid, figurados
nestes Tigres de Bengala

Seres humanos também padecem a migrar para terras distantes, fugindo de conflitos econômicos e políticos que deviam ser
evitados. Detalhe do belo quadro “A Travessia”.

Silêncio marinho marulha
perguntas e sussurra traços de luz. Mara Ulhoa em trânsito. Obra acrílica sobre tela, 2021. Merece moldura dourada do Arnaldoh Martiinz.

Menininha indígena beira-mar acena para você. “Até quando terá que esperar?”,
pergunta-nos…

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Sobre meu trabalho

Espero com meu trabalho contribuir para reflexões sobre temas importantes e contemporâneos. Entretanto, é a temática ambiental que está presente na maior parte da minha produção, por uma inquietação oriunda de vivências pessoais, de atuação na Engenharia, além de lembranças de uma infância no interior recheada do belo “planeta azul” que parecia inesgotável.

Algumas séries dessa temática foram acontecendo ao longo de minha trajetória, como as que intitulei “Paisagens”, “Reflexões Ambientais”, “Ninho Ameaçado”, “Migração de Animais”, “Movimentos na Natureza” e trabalhos que tem inspiração no real e no onírico, às vezes se manifestando em suaves abstrações.

De alguma forma os animais quase sempre se inserem em minhas composições, estudo seus movimentos, formando imagens que modificam a paisagem ou a ela se integram.

Através da tinta acrílica e a óleo busco algumas formas de expressão, mas aquarelas e colagens analógicas também são minhas aliadas. As colagens têm me guiado por um caminho infinito de possibilidades em uma forma de expressão que sempre me encantou através de artistas do Surrealismo, em especial Salvador Dali e René Magritte.

Uma série de colagens de 2020/2021 nos chama a refletir sobre nossas próprias atitudes. Será que a humanidade, a partir desta pandemia, estará mais sensível à preservação da natureza, ao cuidado com o outro e consigo mesmo, à certeza da finitude do nosso planeta? A arte reflete o mundo em que vivemos, agora é a hora de não deixar passar a oportunidade de sermos um mundo melhor.

Mas não me detenho numa técnica ou num tema apenas, faço um trabalho diversificado, busco formas me expressar algo que dentro de mim lateja: o mundo não pode continuar como está, em termos ambientais e humanos. A arte deve falar sobre isto!

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Currículo

  1. Nome completo: Mara Botelho Ulhoa
    Nome artístico: Mara Ulhoa
    Nascimento: Paracatu (MG), 21 outubro de 1959
    Identidade: 1.273.609 – MG
    Endereço: Praça Marino Mendes Campos, 12 – apto. 602 – Bairro Anchieta – BELO HORIZONTE – MG – CEP 30.310-460.
    Telefones: (31) 3223.6529 – (31) 99956-7944
    Email: maraulhoa@gmail.com
  2. FORMAÇÃO PROFISSIONAL
    2.1 Residência Artística – Ocupa Espai – abril/2022 – 60 horas.
    2.2 Participação em diversos ateliers com os artistas Sandra
    Bianchi, Miguel Gontijo, Yara Tupinambá e José Orlando Castaño.
    2.3 Curso de Especialização em Artes Plásticas e
    Contemporaneidade – UEMG/GUIGNARD – 2018/2019.
    2.4 Oficinas de arte e criatividade – Galpão Paraiso – J.
    Vasconcelos – 2016.
    2.5 Curso de graduação em Artes Plásticas na Escola Guignard – de
    2005 a 2008 – incompleto.
    2.6 Especialização em Gestão Ambiental – FUMEC – 1999 a 2000.
    2.7 Engenharia Civil – FUMEC – graduação em 1983.
  3. EXPOSIÇÕES COLETIVAS
    3.1 Fora da Caixa Coletivo – exposição virtural – maio/2024
    3.2 Flores para Yara – Casa dos Contos – Janeiro/2024
    3.3 A Era do Psicodelismo – Santo Butiquim – Julho/2023
    3.4 ColetivArt – CEMIG – Junho/2023
    3.5 Conexões entre Composições – Mercadão Internacional – junho/2023
    3.6 Capas de Disco – Patio Savassi – maio/2023
    3.7 Capas de Disco – Hotel Ronaldo Fraga – Novembro/2022
    3.8 Homenagem a Drumond – Museu Mineiro – outubro/2022
    3.9 Os Jardins de Monet – Casa Palma – setembro/2022
    3.10 Já é Tarde Demais? – Casa dos Contos – 26/07 a 30/08/2022
    3.11 Materialidades Múltiplas: A Sustentabilidade como Matéria-Prima –
    Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – 20 a 29/06/2022
    3.12 Tirando o Mato do Anonimato – Exposição Virtual – Plataforma do
    Cuidado – 14/03 a 14/04/2022
    3.13 Os Jardins de Monet – Aje Bistrô – 09 a 29/03/2022
    3.14 Semana de Arte Moderna – 100 anos depois – Casa dos Contos – 22/02
    a 29/03/2022
    3.15 Encontro – Museu Regional do Norte de Minas – setembro/21
    3.16 Entre o Lobo e o Cão – exposição on-line – Chamada internacional de
    arte 202.2 – maio/2021
    3.17 Vivências da Modernidade – Casa dos Contos – fev/2021
    3.18 Exposição 20 x 20 – Viaduto das Artes – fev/2021
    3.19 Feira de Arte – Galeria Labyrinthus – dez/2020
    3.20 Exposição on-line Eixo Arte Contemporânea – out/2020
    3.21 OFFLOUVRE – Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais – 03/10
    a 19/11/2019.
    3.22 Fronteiras – Galeria da Escola Guignard – UEMG – 11/06 A
    01/07/2019.
    3.23 Exposição Coletiva Galeria Gilda Queiroz – exposição 56x70x70 –
    28/05 A 08/06/2019.
    3.24 IV Encontro de Arte Mineira – CCBB-BH – 24/04/2019.
    3.25Assembleia Legislativa de MG – Depois da Curva do Rio – 03 a
    21/07/2017.
  4. OUTRAS PARTICIPAÇÕES
    Seus trabalhos foram publicados na Revista Encontro (agosto/2015), na
    Revista Exclusive (setembro/2021) e estiveram nos telões do Programa
    Encontro da Rede Globo em agosto/2023.

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O Nascedouro

Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la. (Clarice Lispector – Perto do Coração Selvagem, 1943)

Minhas primeiras inserções na Arte se deram através do desenho, que desde a tenra infância fez parte de meus registros pessoais. Na ausência de um orientador mais próximo, ou de um familiar que tivesse intimidade com as artes, eu procurava desenhar figuras que via em livros, quadriculava as imagens e as reproduzia de forma quase perfeita.

Nasci em Paracatu, no interior do estado de Minas Gerais, onde vivi uma infância impregnada de sentidos do belo e do natural, num tempo em que se pensava a natureza de forma inesgotável e plena. O contato com a natureza era algo corriqueiro e permanente, visto que nossa vida se dividia entre a pequena cidade e a fazenda de meus pais, um lugar longínquo e de difícil acesso, que me deixou fortes lembranças. Lá, costumávamos passar os períodos de férias escolares, quase como uma obrigação, o que roubava em muito o que poderia ser poesia. Mas foi um tempo feliz, de paz e de liberdade.

Não havia museus nem eventos culturais na cidade, e como não costumávamos viajar para outros lugares, as perspectivas de crescimento artístico e cultural para uma garota rebelde e cheia de sonhos como eu eram limitadas. Mergulhava em livros, gostava dos poemas de Fernando Pessoa, Clarice Lispector e admirava as obras dos artistas da MPB da época – Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Betânia e outros. Era das mais estudiosas de uma turma meio perdida e num tempo de “quase silêncio” em relação a tudo o que acontecia ao nosso redor, como resultado de um governo militar e ditatorial.

Sempre me encantei com as ciências exatas, herança de minha mãe, que era professora de Matemática, e de meu pai, que se lamentava por um curso de Engenharia incompleto. Daí, talvez, minha opção pela Engenharia como primeira profissão, embora dividida entre esta e o sonho das Artes Plásticas. Mais tarde, a Matemática me ajudou nos desenhos de figuras humanas e naqueles que demandavam conhecimento sobre perspectiva e outros recursos importantes nas artes visuais.

Atuei como Engenheira Civil por muitos anos em Belo Horizonte, numa empresa estatal, onde tive a oportunidade de acompanhar, em grande escala, a formação das áreas de aglomerados humanos que se formavam numa cidade em crescimento vertiginoso, o que me aproximou da Engenharia Ambiental, na qual me especializei.

Em 1995, matriculei-me no curso de graduação em Artes Plásticas pela Escola Guignard-UEMG, mas não o completei. A profissão de Engenheira e as obrigações pessoais e familiares falaram mais alto naquela época e, somente depois, em 2011, quando me aposentei, consegui me dedicar inteiramente às artes.

A temática ambiental e urbana dominou a maior parte do meu trabalho artístico, claramente influenciado pela experiência na Engenharia e por lembranças de uma infância vivida num quase oásis ambiental, além de outras digressões, próprias de uma mulher sensível e atenta às enormes desigualdades existentes em seu país.

Minha manifestação nas artes se deu de forma questionadora. Muitas das minhas criações passam por reflexões sobre o nosso tempo, seja quanto às questões ambientais e urbanas, seja às relativas ao ‘feminino’, numa época de grandes transformações e conquistas, mas ainda de muito atraso, em se tratando de questões de ‘gênero’. Algumas séries dessa temática ambiental foram acontecendo ao longo de minha trajetória, como as que intitulei “Reflexões Ambientais” (Fig. 1 e 2), “Ninho Ameaçado” (Fig. 3 e 4) e “Paisagens” (Fig. 5 e 6).

Fig. 1 – Diversidade – 100 x 100 – AST – Série: Reflexões Ambientais
Fig. 2 – Menina no Lixão – 100 x 100 cm. – AST – série: Reflexões Ambientais
Fig. 3 – Caos Urbano – 80 x 80 – AST – Série Ninho Ameaçado
Fig. 4 – Estamos em Extinção? – Técnica mista – 50 x 100 cm. – Série Ninho Ameaçado
Fig. 5 – Arvores do Cerrado – 80 x 100 cm. – AST – Série: Paisagens
Fig. 6 – Curvas de Minas – AST – 60 x 80 cm. – Série: Paisagens

Quanto às migrações especificamente, foi por admirar tanto as borboletas e suas metamorfoses que me deparei com a rica e curiosa história migratória das espécies “Monarca”. A história desse inseto é cheia de desafios: a partir de um lagarto ele se torna um ser maravilhoso e frágil, com uma vida breve e intensa. Penso que o amadurecimento do ser humano se aproxima em muito disto: sair do casulo, abrir-se para o mundo e estar disposto a viver por uma causa.

Depois das borboletas, interessei-me por movimentos similares que ocorrem com outros animais mundo afora, de forma igualmente curiosa e mesmo espetacular, surgindo daí a série “Migrações de Animais” (Fig. 7, 8 e 9), à qual estou-me dedicando há três anos.

Fig. 7 –  Migrações de Borboletas Monarca – Óleo Sobre Tela –
40 x 50 cm. – Série: Seres que Migram
Fig. 8 –   Felinos – Óleo sobre Tela – 60 x 100 cm. – Série: Seres que Migram
Fig. 9 – Migração de  Peixes – AST – 60 x 100 m. – Série: Seres que Migram

As migrações fazem parte do ciclo de vida dessas espécies. Elas acontecem em determinadas épocas do ano e por várias razões. Minha pesquisa busca observar tais movimentos e traduzi-los pictoriamente: mostrar como se organizam, suas motivações, as lições aprendidas e principalmente a beleza plástica.

Meu objetivo central não é desenvolver uma tese sobre questões de preservação ambiental, já tão ricas de estudos acadêmicos, mas situa-se na representação desses agrupamentos, nas nuvens cromáticas produzidas por suas movimentações, no impacto visual que causam na natureza, alcançando as questões geopolíticas, que são interessantes e me levam a pensar sobre as migrações de humanos e suas semelhanças com as dos animais ditos irracionais.

Nesse passo, encontro a mim mesma, uma migrante vinda de Paracatu para Belo Horizonte com 15 (quinze) anos de idade, trazendo na bagagem as lembranças do interior e vivendo as dificuldades de uma cidade grande, numa região cada vez mais sofrida pela degradação ambiental, em especial pela mineração, cuja exploração tem sido feita de forma predatória e cruel.

Morando em Belo Horizonte, deparei-me com muitos outros migrantes. Era difícil encontrar uma pessoa nascida e crescida na Cidade; a maioria vinha do interior, de várias partes das Minas Gerais. Dessa forma, convivi com as questões migratórias desde muito cedo: dificuldades de adaptação, de deixar entes queridos para trás, de sempre voltar à terra natal para rever amigos e reviver lembranças, de preconceitos havidos e de não se sentir pertencente ao lugar. Hoje, depois de tantos anos, Belo Horizonte já faz parte da minha história, já carrego amor por suas paisagens belas, mas, infelizmente, em franca degradação ambiental.